Capítulo - 02
SAGA DE UMA FAMÍLIA EMPREENDEDORA
Gênese e Diversificação da Família Peralta, no Brasil
1951-1976
I - UM TRANSPLANTE ACERTADO
1. O Voo da Águia
A segunda parte desta história começa em meados de fevereiro de 1951,
quando Joaquim viajou para o Brasil.
A viagem foi num navio Italiano, de nome “Gênova”. Viagem tumultuada.
Enfrentou perigosa tempestade, em alto mar. O navio ficou uma semana à deriva, até ter sido consertado e poder prosseguir viagem, quando todos já perdiam a esperança.
Joaquim deixou a esposa grávida do último filho, o Arcanjo, que nasceu no mesmo dia em que ele chegou ao Rio de Janeiro.
Esse é o motivo pelo qual datamos a sua chegada a esta terra, no dia 07 de março de 1951, e não pela data de sua chegada a Santos.
Joaquim veio a convite de um cunhado muito querido, o senhor João Batista das Neves.
2. Dilemas, Despedidas e Esperanças
Lembro muito bem do dia em que meu pai se despediu da família.
Era noite. Noite triste, mas de esperança.
O coração humano é estranho e contraditório. Quer algo e sofre ao
acontecer. Nem sempre queremos o que queremos! Testemunhamos a saída dos entes queridos. Temos confiança. Mas os enigmas da vida assustam. Não há empreendimentos sem risco. Quem parte nunca tem a certeza da volta. A incerteza traz a angústia, sempre irreprimível. Então sofremos, esperando que o sofrimento se transmude em alegria.
Era noite em nossos corações!
Despedidas, como esta, são acompanhadas de alguns traumas.
Na hora da partida, Joaquim abraçou e beijou a esposa e os filhos.
O único filho a quem ele não abraçou, nem beijou foi José . Em vez de o abraçar apertou-lhe a mão, em despedida, (de homem para homem ?!), com palavras que ele nunca mais esqueceria.
Disse-lhe, com firmeza:
“Agora, tu és o homem da casa.
Ajuda da tua mãe e de teus irmãos”.
José ficou atônito e só respondeu: “Está bem, pai. Conte comigo”.
Atônito?! Fiquei-o outrora, agora, como diria o poeta Fernando Pessoa.
Sentiu-se crescer, ao ser tratado como homem, sendo ainda adolescente. Assumiu porte de homem e não chorou. Ele sabia bem onde seu pai pretendia chegar, quais suas intenções: Ele vinha ao Brasil para voltar e poder dar melhores condições a todos os filhos, à sua prole numerosa que, mais tarde se desdobraria em oito famílias. Para uma família estava tudo em perfeitas condições. Para oito?! Isto o preocupava. Joaquim sempre foi grande estrategista.
Sentimentos contraditórios invadiam toda a casa: saudade, incerteza, esperança e confiança. Saudade antecipada, receio do incerto, esperança na ousadia daquele homem, imprescindível numa família numerosa e confiança num homem de coragem, dedicação, ousadia e responsabilidade.
Só os fortes vão à luta, enfrentando o desconhecido. Os fracos ficam em casa.
Efetivamente, José, naquelas circunstâncias, era o filho mais velho que ficava em casa, com mãe e os irmãos. Não havia alternativa. Foi declarado homem, aos 13 anos. Esta era a sua idade e a sua condição.
O irmão mais velho estava a estudar, em Aveiro. A Família se orgulhava por isso. Um filho em Aveiro, estudando, dava mais gabarito, orgulho e confiança à família. É consciência cívica.
Nossos pais queriam que os filhos estudassem. Isso muito os honra. Tinham visão. O saber nunca é demais, diziam nossos pais. O saber não ocupa lugar.
3. Méritos Compartilhados - Casa em Ordem
José cumpriu o seu dever, junto com a mãe, e os irmãos: a missão que seu pai lhe deixou, ao partir, compartilhando todo o serviço da família, com o Armando e o Antônio, sob o comando da Mãe. Ninguém tem mérito sozinho. Ajudou, com muita dedicação, os seus irmãos e de nossa mãe. Reforçava até a educação dos mais novos.
A mãe cuidava de todos nós. Ela era para nós um ser superior: uma mulher forte, sempre presente. Para nós alguém sem igual. Era Mãe no pleno sentido.
No quintal, cada um dos maiores tinha um canteiro de jardim para cuidar.
Sempre fomos um lar feliz. Um lar onde todos se amavam. Todos brincavam, todos trabalhavam, todos sorriam e todos dialogavam. Todos se queriam bem.
Nascemos e vivemos num povoado muito alegre, muito animado. Todos se conheciam, todos se queriam bem, como se fôssemos todos uma grande família.
No Lumião, toda a gente gostava de cantar.
De tudo restaram boas lembranças e uma oculta saudade. Querer bem faz bem. Em Lumião, desde criança, aprendemos a querer bem a toda a gente. A dizer “Bom Dia”, “Adeus” a todos. Todos se cumprimentavam, sempre, cordialmente.
Com a idade, a gente volta ao lar, revendo o passado, com o mesmo coração e mais experiências.
Em Setembro de 1953, com anuência dos Pais, Olívia e Joaquim, também José foi estudar em Aveiro.
Quem, agora, ficou cuidando dos negócios familiares, sob o comando da Mãe, foi o Armando e o Antônio.
Os mais velhos assumiam o batente, apenas nas férias, quatro meses por ano.
4. Brasil – o Destino da Família
Em 1955, Joaquim resolveu trazer toda a família para o Brasil. Não era este o seu plano inicial, mas teve de ser assim. As circunstâncias o exigiram. Estava escrito nas estrelas e ninguém sabia.
Preparamos a papelada e viemos.
No início de Fevereiro de 1956, estávamos em Lisboa. Iniciávamos nova etapa de nossas vidas: Deixamos Portugal, rumo ao Brasil.
Nossa viagem foi pelo moderno navio “Santa Maria”: uma cidade em movimento, sobre as águas do mar. Bela viagem de mil sonhos. Muito espaço, muita beleza, muita música. Todos conversávamos, com todos, como em família.
Conversamos até com um grande herói nacional, já bem velhinho, de lentes que pareciam um fundo de garrafa: o Capitão Gago Coutinho. Deu-nos um discurso para lermos, eu e o João. Tinha formato de rolo de pergaminho. Fantástico! Estivemos, frente a frente, com um monumento vivo da História Universal. Apertamos suas mãos!
O convés era, para nós, uma imensa e alegre praça, com música a tocar.
Quando passamos pela linha do Equador, ao ingressar no Hemisfério Sul, houve aviso pelos autofalantes, e toque de uma marcha monumental, que nunca mais esqueci.
Desembarcamos no Porto de Santos, no dia 26 de Fevereiro de 1956.
Neste ano fizemos 55 anos de Brasil.
O senhor Joaquim completou 60 anos de sua chegada ao Brasil, no dia 07 de Março deste ano.
Vieram todos juntos, viajando na mesma cabine: A Mãe, Olívia, e os oito filhos... Dois maiores de 18 anos: o João e o José. Os demais eram menores de idade: o Armando, com 16 anos; o Antônio, com 13 anos; o Basílio, com 11; o Fernando com 10; a Lourdes, com 06; e o Arcanjo com 04 anos.
Os dois irmãos mais velhos vieram, com passaporte próprio. Os seis mais novos vieram com o passaporte da mãe, responsável por todos, como é natural. Efetivamente trata-se de uma mulher muito forte e responsável. Antes de se casar ela já era o arrimo da família da Mãe, Florinda, que enviuvara, cedo.
II - A GRANDE SAGA DA FAMÍLIA, NO BRASIL
5. Novo Lar, Começo de Nova Vida
Joaquim já tinha construído uma casa para a Família, em Cubatão. Estava nova, em folha, e toda equipada.
Nosso pai possuía um grande BANANAL, sítio de produção de bananas, que vendia para o mercado local, e também exportava, para a Argentina.
Com o resultado da venda de patrimônio da Família, em Portugal, Joaquim adquiriu uma mercearia, à Av. 9 de Abril, 81: o Empório Brasileiro. Aí e noutros negócios foi investida a base do Patrimônio de Raiz, da Família.
À partida, como valores econômicos básicos, a família recém-chegada, estava bem equipada: Uma casa nova e ampla, com amplo quintal; Um Bananal de alta produtividade, com um barco (uma chata – barcaça de fundo chato e duas proas, muito forte), para trazer a produção, por água até ao ponto de carregamento dos caminhões, à beira da Avenida; uma canoa de acesso pelo rio Capivari;
Uma Mercearia Empório Brasileiro.
Mais tarde o Empório foi substituído pela Casa Jorge, na mesma Avenida, que veio a dar base ao Supermercados Peralta.
Olívia e Joaquim administravam os negócios. A ninguém delegaram tal função.
Olívia cuidava mais da Mercearia: atendia o balcão e ainda cuidava dos filhos. Alguns estavam na escola.
Joaquim cuidava das compras e supervisionava tudo, enquanto cuidava também de um grande sítio de produção de bananas, localizado atrás da fábrica da Companhia Anilinas, na margem esquerda do Córrego do Capivari, bem perto da mercearia. Comprara este sítio em sociedade com o cunhado, o senhor João das Neves. Mais tarde, João das Neves vendeu sua parte a Joaquim que ficou o único proprietário, com grande produção .
Nos fundos da Casa Jorge passava o Rio Capivari. Aí Joaquim tinha uma canoa presa, com a qual se dirigia regularmente ao bananal.
6. Pais e Filhos vão à Luta - A Revoada
Os dois filhos mais velhos foram estudar em São Paulo. O Armando e o Antônio davam apoio à mãe, na Mercearia, porque já tinham completado o 4º ano. O Basílio e o Fernando cuidavam das entregas, com triciclo, e também ajudavam na mercearia. Todos ajudavam, cada um a seu modo, como podia.
Logo o Armando e o Antônio procuraram emprego: o Armando foi trabalhar como auxiliar de cozinha, em um grande restaurante e o Antônio foi trabalhar como auxiliar em oficina mecânica de carros. Cada um foi à luta para o seu lado. Ninguém ficou esperando a “banda passar”. Foi uma alegria geral. Todos se sentiam úteis.
A essa altura Joaquim e Olívia já tinham adquirido licença para explorar uma barraca de secos e molhados, na feira, aos domingos. O casal tocava o negócio. Os filhos mais velhos ajudavam, nas férias escolares, 4 meses por ano.
Anos mais tarde, já na Mercearia “Casa Jorge”, Joaquim comprou um velho caminhão para as entregas. O Antônio cuidou de o pôr em ordem e voltou para a Empresa da Família. Com a ampliação dos negócios, na nova sede, também o Armando voltou para a Empresa da Família.
7. Consolidação e Novos Rumos
Finalmente chega 1964. A Casa Jorge ia muito bem. Perfeitamente consolidada, em prédio novo. Os filhos, Armando e Antônio, já estavam aptos para administrar os negócios. Já tinham aprendido as estratégias de compra e venda das mercadorias.
Há algum tempo acompanhavam o senhor Joaquim para todo o lado, principalmente no interposto cerealista da Rua Santa Rosa, em São Paulo.
Desfizeram-se da então da barraca da feira.
O bananal, com o desenvolvimento da Indústria, em Cubatão, ficou inviabilizado, pela poluição do ar; envenenado pelas químicas das indústrias. Foi abandonado.
Os peixes que nadavam e pulavam, com agilidade, no Lagamar, além Porto 5, no Bananal, também desapareceram, na poluição das águas. Muita vida desapareceu, diante da machadinha do progresso predatório, quase todo alienígena.
8. Volta ao Torrão Natal, em Visita. A Revirada
Foi então que bateram saudades, no coração sonhador do distinto casal.
Resolveram voltar, em visita, à terra natal, a Portugal.
Entregaram os negócios de raiz da Família, ao Armando e ao Antônio, ajudados pelo Basílio, Fernando e Lourdes.
Pela primeira vez, por um mês, Joaquim deixava os negócios na mão dos filhos, sem os pais por perto. Deixava alguns negócios já em estudo e em tramitação.
Viajaram num jumbo da TAP, que saiu de Campinas. Cumbica só existiria anos mais tarde.
Foram rever a família e rezar no Santuário de Fátima.
Foi a “grande viagem”, na vida de Joaquim e Olívia. Remoçaram.
Felizes, trouxeram presentes que alguns ainda guardam.
Menos de um mês passados, Joaquim e Olívia voltaram aos seus afazeres regulares, como antes.
9. “Acertos” do Setor Comercial
Joaquim e Olívia ainda fizeram muito, pela vida a fora. O Armando e o Antônio, cada vez entendiam mais dos negócios.
Os pais ainda viveram, com plena disposição e lucidez, por mais de 20 anos.
Enquanto isso, o Armando, segundo ele mesmo informa, “acertou com o Pai, a transferência da Empresa Comercial para quatro irmãos”: (Armando, Antônio, Basílio e Fernando). Fecharam a Casa Jorge. Sucedeu-lhe o Supermercados Peralta.
Esta ainda é uma questão obscura, a ser esclarecida. O referido “acerto” passou sem a participação nem consulta aos demais irmãos. Entretanto, todos conhecem as dez exigências de uma deliberação que envolva uma coletividade, para garantir a transparência e preservar direitos. Tais exigências não foram respeitadas, lastimavelmente.
A Lourdes ficou trabalhando com os irmãos, como empregada.
Os outros três seguiram rumo intelectual e tecnológico.
Registro estes dados, para a história, com toda a transparência, até porque isto é conhecido de todos, à posteriori. É fato público e notório.
Com o deslocamento e ampliação da empresa, Olívia e Joaquim precisaram se mudar para Santos. Isto os afastou de muitos dos seus amigos, por se reencontrem mais raramente. A companhia dos amigos de Cubatão fez-lhes falta.
Em algum momento e em alguma circunstância, acirrou-se a rivalidade entre quatro irmãos, que, esperamos, logo deverá ser superada. Até porque as rivalidades sempre podem degringolar. Quando se muda uma lei, todas as outras podem se mudar. É o tal efeito dominó!...
10. Reconhecimento Público:
Após o falecimento de Joaquim (1989) e Olívia (1988), a Prefeitura de Cubatão resolveu homenagear o casal, dando o nome de Olívia, a uma Rua e o nome de Joaquim, uma Avenida do Município. São duas vias que se cruzam.
Em 1998 (+-) a Prefeitura resolveu homenagear Joaquim, como grande empreendedor, com um busto de bronze, em uma Avenida.
Em 2004 (?!), a Câmara Municipal realizou uma Sessão Especial de homenagem à Família Peralta, com inauguração de uma estátua do senhor Joaquim, na Câmara Municipal.
Joaquim e Olívia, bem como os filhos, sempre foram muito respeitados e benquistos, em Cubatão. A Família tinha, uma moral irretocável que todos admiravam.
11. Inez Peralta, Historiadora de Cubatão
Não podemos esquecer que Inez, nora do senhor Joaquim, foi quem escreveu a primeira História de Cubatão. É primeira e a maior Historiadora da Cidade.
Inez foi Secretaria de Educação, Esportes e Turismo da Prefeitura Municipal. Na sua gestão foi efetivada a irmanação de Cubatão e Aveiro, como cidades irmãs.
Foi urbanizada a Praça Joaquim Montenegro, antigo, Porto geral de Cubatão, com a Estátua do barqueiro que ainda lá está, além de outros melhoramentos histórico-artísticos.
A Praça Aveiro também é fruto da gestão de Inez, com outros responsáveis.
À Inez toda a população de Cubatão deve a descoberta e a busca, no Rio de Janeiro, de uma declaração que provou não serem as terras de Cubatão propriedade da União, dando um lucro fabuloso às propriedades do munícipio e restabelecendo a verdade jurídica.
Enfim, Inez Garbuio Peralta é e sempre será a grande historiadora de Cubatão. Esta honra também cabe à Família, que a cidade tanto respeita.
Também João foi Secretário de Educação, Esportes e Turismo da cidade. À sua gestão deve-se a Estátua de Camões, erigida na praça Camões.
III - UMA FAMÍLA EMPREENDEDORA
Laços de Família – Antecessores
Damos aqui a primeira parte da história da Família Peralta. Invertemos a ordem dos acontecimentos, pelo fato de estarmos centrando este trabalho na descendência do senhor Joaquim Jorge Peralta.
Como estamos tratando da gênese da Família, estudar os antecedentes da Família do senhor Joaquim e da Senhora Olívia, faz parte do trabalho. Abordamos, agora, os laços que nos unem ao passado de nossos pais, em sua terra natal.
[Em Construção]
Sr. José Peralta,
ResponderExcluirO senhor cometeu um equívoco ao mencionar a data de falecimento da Vó Olivia, uma vez que constou erroneamente dezembro de 1988, quando na realidade a data é 15/09/1988. Outra imprecisão notada, foi em relação ao número de filhos do Sr. Antonio, já que constou 07 filhos e não 6 como seria o correto. Outro dado equivocado foi o número de filhos do Sr. Armando, uma vez que este possui 5 filhos e não 4 filhos.
Ao ler o texto, fiquei em dúvida, se trata-se de um relato histórico ou de visão unilateral de Vsa, principalmente no tocante ao item 09(acertos comerciais)?
Márcia Roberta Peralta Perdiz Pinheiro(filha do Basilio)